A tireoide, essa pequena glândula em forma de borboleta localizada na base do pescoço, possui um papel de suma importância no corpo humano.
Embora pequena em relação aos outros órgãos, ela é uma das maiores glândulas do corpo humano, sendo essencial ao sistema endócrino e responsável pela síntese de hormônio, importantíssima para o adequado funcionamento do organismo.
Para médicos, entender profundamente a fisiologia da tireoide e suas interações hormonais é fundamental para prevenir, diagnosticar e tratar uma variedade de condições que podem afetar a saúde e a longevidade dos pacientes, como também para promover estratégias de otimização das suas funções.
Por isso, preparamos este artigo a fim de expor mais detalhes sobre a tireoide e sua importância.
Anatomia da tireoide
A tireoide é uma glândula endócrina de suma importância localizada na base do pescoço, logo abaixo do conhecido Pomo de Adão, revestindo a parte anterior da traquéia, posteriormente aos músculos esternotireoideo e esterno-hioideo, entre a 5ª vértebra cervical (C5) e a 1ª torácica (T1).
De formato semelhante a uma borboleta, é constituída por dois lobos laterais (direito e esquerdo) unidos por uma faixa estreita de tecido chamada istmo e, em algumas pessoas, possui ainda um pequeno prolongamento na parte superior, chamado lobo piramidal.
Embora pequena, é uma das maiores glândulas endócrinas do corpo humano, com cada um de seus lobos laterais medindo cerca de 4-6cm de comprimento, 1,5cm de largura e 2-3cm de espessura, pesando cerca de 15 a 30g.
A tireoide é particularmente responsável pelo controle do metabolismo e pelo equilíbrio entre os sistemas de todo o organismo (homeostase), desempenhando um papel vital na regulação metabólica, crescimento e função de órgãos como o coração, cérebro, fígado e rins, e no desenvolvimento fetal.
Os principais hormônios produzidos pela tireoide são o triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4). O T4 é um pró-hormônio produzido em maior quantidade, sendo o T3 o hormônio metabolicamente ativo, ambos são sintetizados a partir do aminoácido tirosina e do mineral iodo.
Fisiologia da tireoide
Os hormônios tireoidianos são produzidos pela glândula tireoide, a glândula pituitária anterior e o hipotálamo. Esses três juntos, formam um circuito autorregulador denominado eixo hipotálamo-hipófise-tireoide.
Quando capta informações do meio externo, o hipotálamo libera o Hormônio Liberador da Tireotrofina (TRH), que estimula a hipófise a produzir e secretar o Hormônio Estimulante da Tireoide (TSH). Então, a tireoide é estimulada pela glândula pituitária a produzir seus hormônios.
Sendo a única entre as glândulas endócrinas com capacidade de concentrar iodo, essencial para a síntese dos hormônios tireoidianos, a tireoide o capta a partir da corrente sanguínea, onde é, então, incorporado à molécula de tirosina para formar os hormônios tireoidianos T3 e T4.
O T4 é sintetizado em maior quantidade, mas a maior parte do T3 circulante é, na verdade, derivada da conversão periférica do T4 em T3, que ocorre principalmente no fígado e em outros tecidos, onde a enzima desiodase remove um dos átomos de iodo do T4, convertendo-o em T3, a forma mais ativa do hormônio tireoidiano.
Esse sistema é regulado por um mecanismo de feedback negativo. Quando os níveis de hormônios tireoidianos estão baixos no sangue, a pituitária aumenta a produção de TSH para estimular a tireoide a produzir mais hormônios. Por outro lado, quando os níveis de hormônios tireoidianos estão altos, a produção de TSH é inibida, evitando uma produção excessiva de hormônios tireoidianos.
Ação dos hormônios tireoidianos
Os hormônios tireoidianos têm uma ampla gama de efeitos no corpo. A maior parte dos tecidos têm receptores para eles e, por isso, a tireoide é capaz de interferir no metabolismo das células de quase todos os órgãos.
Eles regulam o metabolismo basal, a temperatura corporal, o crescimento e o desenvolvimento, o funcionamento do sistema nervoso central, a função cardiovascular, entre outras funções vitais. Eles também desempenham um papel essencial no desenvolvimento fetal e na manutenção da função reprodutiva.
Conforme já demonstrado, níveis desregulados dos hormônios da tireoide liberam níveis maiores ou menores de TSH e assim, promovem alterações no sistema endócrino e consequências nocivas à saúde do ser humano. Ou seja, uma pequena disfunção na glândula tireoidiana pode acarretar sérios desequilíbrios com sintomatologias diversas e incômodas.
Disfunções mais comuns da tireoide
Disfunções da tireoide podem ocorrer quando há uma produção insuficiente ou excessiva de hormônios tireoidianos. As condições mais comuns incluem:
- Hipotireoidismo: caracterizado pela produção inadequada de hormônios tireoidianos, resultando em uma desaceleração do metabolismo e uma série de sintomas como fadiga, ganho de peso, pele seca e sensação de frio constante.
- Hipertireoidismo: ooposto do hipotireoidismo, ocorre quando há uma produção excessiva de hormônios tireoidianos. Os sintomas incluem perda de peso inexplicável, aumento da frequência cardíaca, tremores e ansiedade.
Em ambas as disfunções, é possível que ocorra o aumento da glândula, conhecido como bócio. Além disso, hipo ou hipertireoidismo podem ocorrer em qualquer fase da vida, tanto em mulheres como em homens.
Principais causas de disfunção da tireoide
Alguns fatores podem impactar no funcionamento da tireoide.
Por exemplo, o cortisol e os hormônios tireoidianos estão intimamente ligados, sendo um dos papéis daquele a promoção da redução destes. Entretanto, o estresse crônico desempenha um papel no desenvolvimento de muitas doenças, inclusive doenças autoimunes da tireoide.
Entretanto, hoje, o principal fator de impacto é a deficiência de iodo. Ele deve ser obtido principalmente através da alimentação, mas segundo a OMS, estima-se que mais de dois bilhões de pessoas sofram com a deficiência desse mineral.
Parte da explicação pode estar no aumento do consumo de farináceos, que apresentam bromo na composição. Além disso, o uso de flúor também passou a fazer parte da rotina da população, sendo encontrado na água fluoretada e na maior parte dos itens de higiene bucal. E há ainda, muitos remédios com halógenos em sua composição.
Por estarem presentes em maior concentração, esses componentes podem competir com o iodo em seu sistema intracelular de captação, prejudicando a tireoide.
Hábitos que contribuem para melhorar a função da tireoide
- Principalmente por conta do que explicitamos acima, em diversos casos, a manutenção de níveis ótimos de iodo não é alcançada exclusivamente pela alimentação, pelo que a terapia de suplementação pode ser necessária para fornecimento da quantidade adequada e garantia da sua absorção.
Porém, além do tratamento médico, alguns hábitos de vida saudáveis podem ajudar a melhorar a função tireoidiana:
- Dieta balanceada: rica em iodo, selênio e zinco, nutrientes essenciais para a função da tireoide.
- Atividade física regular: promove o metabolismo e ajuda a manter um peso saudável.
- Gerenciamento do estresse: oestresse crônico pode afetar a função da tireoide, então técnicas de gerenciamento do estresse, como meditação e ioga, podem ser benéficas.
- Evitar toxinas ambientais: certas substâncias químicas encontradas em produtos domésticos e ambientais podem interferir na função da tireoide, por isso é importante minimizar a exposição sempre que possível.
Terapia complementar com T3:
Em alguns casos de hipotireoidismo, os pacientes podem não responder adequadamente ao tratamento com T4, seja devido às dificuldades na conversão de T4 em T3 ou outras razões.
Nestes casos, a terapia complementar com T3 pode ser considerada. O T3 é mais potente e de ação mais rápida que o T4, e pode proporcionar alívio dos sintomas em pacientes que não respondem ao tratamento convencional.
Cuidar da tireoide é cuidar da saúde e da longevidade
Após esta breve explanação, é possível compreender que manter os hormônios da tireoide em equilíbrio é fundamental à boa saúde e à longevidade.
Por isso, a avaliação por exames é extremamente importante, sempre lembrando que níveis séricos não podem ser isoladamente considerados, haja vista que não refletem os reais níveis hormonais intracelulares. Portanto, a clínica permanece soberana no norteamento das melhores estratégias de tratamento.
Além disso, atentar-se para hábitos relacionados ao estilo de vida que possam estar causando danos à sua saúde deve ser o ponto de partida.
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