Há muitos anos transmite-se a ideia de que o colesterol representa um grande problema para a saúde humana.
Conhecido como uma “gordura facilmente obtida através da dieta”, tanto se disseminou sobre seu suposto poder danoso, que no Brasil passamos a ter o Dia Nacional de Prevenção e Controle do Colesterol, em 08 de agosto, como campanha de conscientização acerca dos perigos ocasionados pelo descontrole de seus níveis.
Entretanto, há muito escondido por trás dessa grande fama de “causador de infarto e AVC” atribuída ao colesterol, e nós, da SOBRAF, enquanto sociedade médica voltada ao estudo e disseminação de conhecimentos sobre Fisiologia Humana e, mais do que isso, enquanto instituição sem fins lucrativos que tem como propósito principal a valorização da prática médica focada na promoção e manutenção da saúde e na qualidade de vida, nos sentimos no dever de esclarecer tais obscuridades.
Portanto, neste artigo, você vai entender com mais detalhes sobre o que é o colesterol, qual sua importância para a saúde humana, para que serve, sua relação com a alimentação e ainda os perigos do uso indiscriminado dos medicamentos amplamente prescritos para controle do colesterol, as estatinas.
Colesterol não é uma gordura!
O colesterol é, na verdade, um tipo de álcool esteroide, um composto orgânico encontrado nas membranas celulares e transportado pelo sangue em lipoproteínas. Ele é produzido diariamente pelo organismo, principalmente pelo fígado. As gorduras, por outro lado, são triglicerídeos, que são ésteres derivados do glicerol e três ácidos graxos.
Todas as células humanas precisam de colesterol e, para circular pelo corpo e chegar até elas, o colesterol precisa estar em sua forma metabólica reduzida e estar protegido pelo que chamamos de lipoproteína, porque ele é hidrofóbico. São estas lipoproteínas que “carregam” o colesterol que podem ser de baixa, média, intermediária ou alta densidade, a depender da concentração relativa de triglicérides e colesterol que existe dentro das referidas proteínas. Daí a divisão em LDL, HDL e não-HDL.
Suas formas básicas também são duas: (1) o colesterol reduzido encontrado em alimentos frescos e naturais como carnes, peixes, ovos e (2) o colesterol oxidado que é encontrado em alimentos industrializados.
Fato é que apenas cerca de 10 a 30% do colesterol circulante vem da alimentação; os outros 70 a 90% são produzidos pelo próprio corpo.
Para que serve o colesterol?
O colesterol, de ambos os tipos, é indispensável para:
- Formação do tecido neuronal
- Síntese de hormônio D
- Absorção de cálcio
- Produção biliar
- Produção de mielina
- Permeabilidade da membrana celular
- Produção de hormônios esteroides
A própria natureza nos fez fisiologicamente dependentes de colesterol. Portanto, para que um indivíduo se mantenha saudável, é necessário que mantenha níveis ótimos dessa substância, pois, caso contrário, não terá aporte para essas funções fundamentais.
Não existe colesterol ruim!
Muito se fala sobre o poder danoso do colesterol LDL, especialmente para a saúde cardiovascular.
Primeiro, recordemos: é a lipoproteína que carrega o colesterol que possui diferentes densidades de acordo com a quantidade de colesterol presente em seu interior. Segundo que, embora possa ser de baixa densidade, se esta lipoproteína estiver em sua forma reduzida ainda assim não será um problema e não vai formar placas nas artérias.
Ao contrário, a principal função do LDL é distribuir o colesterol para nossas artérias e células, para nossos sistemas produzirem reações metabólicas, também hormônios.
E quando há elevação do risco de problemas cardiovasculares?
O grande vilão é o LDL oxidado pelos radicais livres! Para que as gorduras do sangue possam aderir às paredes das artérias e iniciar o processo de deposição, é necessário que as lipoproteínas se relacionem ao oxigênio. Esta é a base do processo de aromatase.
Ao menor sinal de lesão do tecido arterial, o corpo “envia” uma quantidade maior de colesterol para aquela região a fim de protegê-la e manter sua integridade. Porém, em razão do contato com o oxigênio e não sendo retirada do sítio celular pelo HDL, a fração oxidada passa a aderir à parede arterial formando células esponjosas.
A presença de células esponjosas provoca a atração de componentes de coagulação, dentre eles a fibrina, as plaquetas e os leucócitos. Essas células se multiplicam, ativam a cascata da inflamação e, assim, induzem a formação da placa ateromatosa e a cronificação do processo.
Ou seja, somente o colesterol na forma oxidada apresenta toxicidade! Esta informação é muito relevante, pois ninguém aqui está negando a participação do colesterol no processo de aterosclerose que, muitas vezes, culminará em eventos cardiovasculares fatais, mas ele não é o ator principal. Na verdade, a atriz principal é a inflamação.
Por que os níveis de colesterol costumam subir com a idade?
O colesterol é uma molécula vital que serve como precursor para a síntese de hormônios cruciais, como a pregnenolona, cortisol, DHEA, testosterona, estradiol e estrona. Todos esses hormônios recebem outro nome mas são, na verdade, uma molécula de colesterol que sofreu modificações.
Esses hormônios exercem papéis reguladores em uma miríade de funções por todo o corpo.
Entretanto, de maneira geral, por volta dos 30 anos a produção desses hormônios começa a declinar naturalmente. E o corpo, com seu incrível poder de autorregulação, aumenta a produção da matéria-prima (colesterol) visando nos manter saudáveis e íntegros.
Ocorre que, em razão do avançar da idade, mas também de outros fatores de estilo de vida, o processo de conversão do colesterol em hormônios fica prejudicado, o que faz com que os níveis de colesterol comecem a subir no exame de sangue.
O problema é que em vez de visualizarem esse aumento como o que ele realmente é – uma resposta fisiológica adaptativa para compensar a queda hormonal, passou-se a olhar para ele como um problema isolado e relacionado ao consumo de gordura.
Mas lembrando, apenas cerca de 10% a 30% do colesterol circulante vem da alimentação. É o próprio corpo que aumenta a produção, tentando se manter funcional e sadio.
Não é nada inteligente pensar que a natureza, que nos dá capacidade de reparo, restauro e autorregulação, nos faria produzir algo que vai nos matar!
Os interesses e perigos por trás do uso de estatinas
O primeiro caso de infarto agudo do miocárdio foi documentado na Inglaterra em 1878 por Rudolf Virchow, um patologista alemão. Não há relatos dessa patologia até final do século XIX.
Embora hoje constitua grave problema de saúde nas sociedades ocidentais, o IAM era raríssimo em culturas primitivas.
Em 1913, o patologista russo Nikolai N. Anichkov administrou colesterol diluído em óleo vegetal a ratos e, depois de vários meses observou o desenvolvimento de depósitos (placas) nas artérias dos animais, contendo alto percentual de triglicérides e colesterol.
Aí surgiu o grande mal-entendido do colesterol! Após isso, a comunidade médica taxou o colesterol como a causa das doenças cardiovasculares e declarou publicamente que as doenças coronarianas se deviam ao consumo de manteiga, banha de porco, carnes, ovos, alimentos ricos em colesterol.
Entretanto, evidências contrárias começaram a surgir de diferentes pontos do planeta, e restou demonstrado que não existe relação entre a ingestão de dieta rica em colesterol e gorduras saturadas e as doenças cardiovasculares.
Por outro lado, há quem se beneficie com a propagação da fama de vilão do colesterol, como é o caso daqueles que supostamente possuem a “solução” para o problema.
Não é segredo para ninguém que, há muitos anos, a indústria farmacêutica lucra muito com a venda de medicamentos controladores do colesterol, as estatinas. Já foram bilhões de dólares e, atualmente, a Sinvastatina é o terceiro medicamento mais vendido, rendendo mais de um bilhão de reais à indústria.
O problema é que quem paga o preço são os usuários que, além de não terem grandes efeitos protetores contra doenças cardiovasculares com sua ação inibidora da redutase, enfrentam efeitos colaterais diversos e complexos e têm risco elevado para diversos problemas graves.
Não estamos aqui, fazendo apologia para a cessação do uso das medicações, mas trazendo à tona a necessidade de melhores critérios para a prescrição dela, identificando aqueles com alto risco e quantidade aumentada de LDL oxidado para que usem a medicação, pois em Medicina existe um princípio básico de que os benefícios devem superar os riscos.
“Primum non nocere”.
Colesterol não precisa ser combatido!
Colesterol não é um vilão. A desinformação e os interesses bilionários que a alimenta é que são fatais.
O raciocínio é simples: colesterol é vital, precisamos de bons níveis dele. Entretanto, irregularidades metabólicas e hormonais podem fazer com que haja acúmulo dessa substância e a elevação de seus níveis no exame.
Portanto, antes de cogitar a hipótese de uso de estatinas, é obrigação de todo médico comprometido com o cuidado da saúde, investigar a produção hormonal de seus pacientes e, principalmente nos pacientes com história clínica de doença cardiovascular, adotar todas as medidas possíveis para a desinflamação do organismo.
Quanto à dieta, também orientamos o raciocínio lógico: a alimentação deve ser o mais equilibrada e natural possível, sendo pobre em industrializados, açúcares e carboidratos refinados. E claro, deve haver o acompanhamento nutricional para adequações específicas.
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Materiais complementares para estudo:
Colesterol: vilão ou aliado da saúde?
“Alertem todos os pacientes sobre os perigos das estatinas”