“Envelhecer é inevitável, ficar velho é opcional”, você já deve ter ouvido essa frase, mas sabe o que ela quer dizer?
O processo de envelhecimento é um fenômeno contra o qual não podemos lutar. É da natureza humana vivenciar fases distintas durante a vida, cada qual com suas características peculiares, e experimentar as mudanças fisiológicas ocasionadas pela passagem do tempo, que é característica do envelhecer. Entretanto, apesar das mudanças, há algo nesse processo que não é obrigatório: ficar velho.
Para explicar melhor isso, lhe convidamos a pensar em um daqueles carros antigos de colecionador. Perceba que até para nos referirmos a ele, não dizemos “carro velho”, mas sim, antigo.
Isso, porque apesar de já haver bastante tempo de sua fabricação, um carro de colecionador costuma ser extremamente bem cuidado e estar em perfeitas condições, tanto esteticamente quanto em sua mecânica.
É assim que devemos entender o envelhecer sem ficar velho: ter bastantes anos, mas manter-se bem, independente e gozar das melhores capacidades funcionais, apesar de “fabricado” há muitos anos.
Neste artigo, trazemos à tona o envelhecimento inflamatório: uma forma específica de envelhecimento que, na contramão do que expusemos até aqui, pode nos levar a ficar velhos antes mesmo de chegarmos à velhice.
O que é envelhecimento inflamatório?
A inflamação também é um processo natural do organismo. Diante de ameaças, como lesões ou infecções, nosso sistema de defesa reage produzindo respostas de combate que visam proteger e recuperar a integridade da área ou órgão afetado. É o que entendemos por inflamação aguda.
Ela costuma ter sinais facilmente perceptíveis, como vermelhidão, inchaço, dor, e pode durar poucas horas ou dias.
Por outro lado, há também a inflamação crônica, que não produz sinais tão evidentes e pode se prolongar no tempo e durar longos anos. Esta pode ser extremamente prejudicial ao organismo, pois o coloca em contínuo estado de combate e passa a danificar também células saudáveis do corpo.
O envelhecimento inflamatório, ou Inflammaging, é justamente o aumento crônico e de baixo grau dessa espécie de inflamação, que deixa um indivíduo cada dia mais vulnerável às mais diversas doenças, como doenças cardíacas, diabetes tipo 2, doenças neurodegenerativas, câncer e muitas outras. As chamadas “doenças da idade” ou “da velhice”.
Quais as causas do envelhecimento inflamatório?
Podem ser diversas as causas do envelhecimento inflamatório, mas algumas delas você vai conhecer aqui abaixo:
Exposição a toxinas e estilo de vida
As toxinas ambientais, a alimentação geneticamente incorreta, o sedentarismo e o estresse crônico são os fatores de maior influência para o envelhecimento inflamatório.
Muito mais do que a genética, a forma como vivemos – seja quanto àquilo que praticamos ou deixamos de praticar diariamente ou quanto ao ambiente a que estamos inseridos – é capaz de contribuir para a inflamação e afetar o funcionamento adequado do organismo em diversos níveis, nos deixando mais suscetíveis a doenças diversas.
O desequilíbrio hormonal e a disbiose intestinal são as principais questões desencadeadas por um estilo de vida errôneo e, a partir daí, inúmeras funções fisiológicas podem falhar e levar às demais causas do envelhecimento inflamatório que você vai ver aqui abaixo.
Disfunção mitocondrial
Mitocôndrias são organelas encontradas no citoplasma, responsáveis pela respiração e produção de energia celular. Elas promovem a oxidação de nutrientes, através do ciclo de Krebs e da cadeia transportadora de elétrons, para geração de ATP e participam na regulação do metabolismo, influenciando a utilização de substratos energéticos e a síntese de moléculas como lipídios.
À medida que envelhecemos, as mitocôndrias podem sofrer danos, passando a produzir excessivamente espécies reativas de oxigênio (EROs), desencadeando a cascata apoptótica e contribuindo para a inflamação.
Estresse oxidativo
Espécies reativas de oxigênio são necessárias para a função celular adequada, incluindo a produção energética pelas mitocôndrias. Em condições normais, elas são naturalmente produzidas e neutralizadas por mecanismos antioxidantes.
Contudo, com o avançar da idade e também em razão de alguns hábitos, é possível que haja o desequilíbrio entre a quantidade desses radicais livres e a capacidade de combate antioxidante, caracterizando o estresse oxidativo, condição que eleva a inflamação, está relacionada ao maior risco de doenças e pode causar danos a tecidos e órgãos.
Desequilíbrio imunológico
O enfraquecimento do sistema imunológico é um fator intrínseco ao envelhecimento. À medida que a idade avança, podemos enfrentar alterações estruturais e funcionais desse sistema e perder a capacidade de responder adequadamente a infecções e patógenos, o que contribui para o aumento da inflamação, podendo levar inclusive ao ataque de células saudáveis e desencadear doenças autoimunes.
Senescência celular
A senescência celular caracteriza o envelhecimento das células e sua perda de capacidade proliferativa. Significa dizer que, com o encurtamento crítico dos telômeros, nossas células atingem um limite de divisão e replicação, não havendo mais a substituição por novas células como acontece quando somos jovens. Nestes casos, além de não se renovarem, essas células podem liberar substâncias que contribuem para a inflamação.
Você pode gostar de ler também sobre Epigenética: por que médicos precisam entender desse assunto?
É possível envelhecer sem ficar velho!
Embora o avançar da idade contribua para mudanças fisiológicas em todos nós, a velocidade com que essas mudanças ocorrem e o nível de inflamação estão intimamente ligados a como vivemos.
É por isso que atualmente, apesar de estarmos vivendo por mais anos, as “doenças da idade” têm aparecido em pessoas que, muitas vezes, sequer atingiram os 50 anos de idade. Seus estilos de vida estão contribuindo para que se tornem velhas antes mesmo da chegada da velhice.
Voltando à ideia do carro, é como se ele fosse utilizado todos os dias sem qualquer cuidado, recebesse combustível de qualidade ruim, não fosse levado às revisões e não passasse por qualquer tipo de manutenção. Os desgastes e defeitos surgem, se acumulam, se tornam “inconsertáveis” e o veículo vira uma sucata que em vez de ser levado à exposição tem de ser encostado em um ferro velho.
Portanto, cuide de seu estilo de vida, adote hábitos saudáveis, exclua hábitos negativos e conte com médicos e profissionais de saúde de confiança para lhe ajudar com a redução da inflamação e a melhor programação do envelhecimento.
Se você é médico e gostaria de ampliar seus conhecimentos para oferecer uma abordagem integral de saúde e promover melhores condições de vida e envelhecimento aos seus pacientes, conheça o curso Hormonologia e Terapias Integrativas – HTI.
E para acompanhar mais conteúdos como esse, acompanhe a comunidade SOBRAF no Instagram.