Como a inflamação crônica subclínica afeta a saúde

Como a inflamação crônica subclínica afeta a saúde

A inflamação crônica subclínica, também conhecida como inflamação silenciosa, trata-se de um dos principais gatilhos para o envelhecimento precoce e para a morte súbita na sociedade atual.

Neste artigo, relatamos as principais características sobre a inflamação crônica subclínica, bem como suas potenciais consequências à fisiologia humana e à longevidade saudável. 

Siga a leitura e saiba mais. 

Qual a diferença entre a inflamação crônica subclínica e a inflamação aguda?

Para iniciar o artigo, é muito importante a compreensão acerca das diferenças entre a inflamação crônica subclínica e a inflamação aguda

A inflamação aguda é um processo natural, que faz parte do mecanismo de defesa do corpo humano. 

Ela ocorre quando o sistema imunológico reconhece e remove estímulos nocivos para o equilíbrio do organismo, manifestando sintomas como o inchaço, dor, perda de função ou vermelhidão no local afetado. 

Danos nos tecidos devido à trauma, invasão microbiana ou compostos nocivos são as principais causas da inflamação aguda no corpo. 

Em resumo, a inflamação aguda é a forma como o indivíduo combate às infecções e acelera o processo de cura.

Em contraste, quando a inflamação aumenta e o sistema imunológico continua a bombear glóbulos brancos e mensageiros químicos que prolongam o processo, ocorre a inflamação crônica subclínica.

Neste processo, é como se o corpo estivesse constantemente sob ataque e, dessa forma, o sistema imunológico necessitasse lutar diariamente para tentar proteger o organismo.

Quais as potenciais causas da inflamação crônica subclínica?

Os hábitos nocivos da sociedade atual são os principais fatores contribuintes para o desenvolvimento da inflamação crônica subclínica. 

Entre os diversos causadores da inflamação crônica subclínica, destacam-se fatores como alimentação inflamatória, substâncias tóxicas ambientais, estresse emocional e físico e o sedentarismo.

Alimentação e inflamação crônica

De acordo com a Universidade de Harvard, uma das ferramentas mais poderosas para combater a inflamação não vem da farmácia, mas sim do supermercado. Frank Hu, professor de nutrição e epidemiologia do Departamento de Nutrição da Escola de Saúde Pública de Harvard, afirma que “muitos estudos experimentais mostraram que componentes de alimentos ou bebidas podem ter efeitos antiinflamatórios”

Para reduzir o risco de inflamação crônica, também é importante evitar alimentos específicos

A University of Chicago Medicine afirma que a dieta americana padrão é pró-inflamatória pois é rica em alimentos ultraprocessados, carne vermelha e pobre em frutas e vegetais. 

No entanto, não é apenas nos Estados Unidos que a população está submetida a uma dieta inflamatória. De acordo com as informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009 realizada no Brasil,  apesar de haver uma ingestão satisfatória de proteínas, a prevalência de consumo excessivo de açúcares foi observada em 61% da população, já a de gorduras saturadas, em 82% das pessoas. O consumo insuficiente de fibras foi observado em 68% dos brasileiros.

Como afirma a UChicago Medicine, todos os alimentos processados ​​podem causar inflamação. Eles podem alterar as bactérias que vivem em nosso intestino e essa alteração tem a capacidade de interagir com nosso sistema imunológico, contribuindo para a inflamação crônica.

Por isso, sempre evite consumir alimentos que não possam ser produzidos em casa.

Além disso, é importante evitar:

  • Carboidratos refinados, como pão branco, massas, bolos, tortas;
  • Comidas imersas em óleo, como a batata frita, pastel, donut; 
  • Bebidas açucaradas como o refrigerantes e sucos;
  • Carnes vermelhas;  
  • Gorduras como a margarina, óleo de soja e banha de porco.

Compreendendo o estresse e a inflamação do organismo

O estresse está diretamente relacionado aos níveis de inflamação do organismo.

Em entrevista para o portal Everyday Health, a médica Alka Gupta (codiretora de saúde integrativa do Brain and Spine Institute da Weill Cornell Medicine, em Nova York) explica que quando estamos estressados – emocionalmente ou psicologicamente – ocorre a liberação do cortisol. 

Como é sabido, o cortisol atua suprimindo funções não essenciais em “casos de emergência”, como a resposta imunológica e a digestão. 

O hormônio também é responsável pela produção de glicose, aumentando a energia para os músculos, enquanto inibe a produção de insulina e estreita as artérias, o que força o sangue a bombear com mais força para auxiliar nossa resposta ao estressor.

A adrenalina também é liberada, o que diz ao corpo para aumentar a frequência cardíaca e respiratória, além de expandir as vias aéreas para enviar mais oxigênio aos músculos. 

É essa resposta inadequada ao estresse que pode se perpetuar durante os anos e ocasionar problemas como a inflamação crônica subclínica. 

Em um estudo exploratório publicado na Oxidative Medicine and Cellular Longevity, os pesquisadores descobriram que 12 semanas de yoga trouxeram melhorias nos níveis de inflamação do organismo. 

O programa consistia em 90 minutos de ioga que incluía posturas físicas, respiração e meditação cinco dias por semana durante 12 semanas. 

Os pesquisadores encontraram indicações de níveis mais baixos de inflamação e níveis significativamente reduzidos de cortisol

Qual a interferência do exercício físico na diminuição da inflamação crônica?

A prática de atividades físicas está totalmente atrelada a redução dos níveis de inflamação crônica. 

Uma pesquisa sobre o efeito do treinamento físico na inflamação crônica, publicada em 2010, traz dados consistentes de estudos observacionais que mostram uma ligação entre níveis  de atividade física e biomarcadores inflamatórios. 

Os dados indicam que o aumento da atividade física aeróbica pode ser eficaz para reduzir a inflamação crônica, especialmente em indivíduos com doenças crônicas associadas a um estado de inflamação elevada. 

Estudos futuros são necessários para refinar nossa compreensão dos efeitos do treinamento físico na inflamação sistêmica de baixo grau, no entanto, os dados obtidos revelam a melhora nos níveis de inflamação através da atividade física. 

Compreendendo as consequências da inflamação crônica subclínica

Como citado no blog do grupo Longevidade Saudável, a inflamação crônica subclínica é especialmente preocupante porque em 55% dos casos ocasiona morte súbita

Assim, sem que o indivíduo esboce quaisquer sintomas, ele é acometido por um mal, como o infarto do miocárdio, por exemplo.

De acordo com a literatura, as doenças relacionadas ao envelhecimento compartilham características que convergem amplamente para a inflamação crônica subclínica. 

Os pesquisadores argumentam que as doenças crônicas não são apenas o resultado do envelhecimento e da inflamação; essas doenças também aceleram o processo de envelhecimento e podem ser consideradas uma manifestação do envelhecimento precoce. 

Mas afinal, quais são as doenças que podem ser ocasionadas a partir da inflamação crônica subclínica?

As doenças associadas à inflamação crônica são múltiplas e incluem a doença cardíaca isquêmica, acidente vascular cerebral, câncer, diabetes mellitus, doença hepática gordurosa não alcoólica e condições autoimunes e neurodegenerativas.

Doenças cardiovasculares e inflamação crônica

De acordo com o American College of Cardiology a inflamação desempenha um papel crucial no processo de aterogênese. A doença cardiovascular (DCV) é uma das principais causas de mortalidade e morbidade em pacientes com doenças inflamatórias crônicas, como artrite reumatoide (AR), lúpus eritematoso sistêmico (LES), esclerose sistêmica (ES), infecção crônica pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e psoríase.

Os pesquisadores do American College of Cardiology afirmam que ser crescente a compreensão de como a inflamação crônica contribui para a cardiomiopatia. Portanto, a organização afirma que direcionar as vias inflamatórias para reduzir o risco de doença cardíaca coronária pode ser uma estratégia preventiva decisiva.  

Câncer e inflamação crônica: qual a relação?

Afinal, existe relação entre o surgimento do câncer e a inflamação crônica?

Um artigo publicado na Biblioteca de Medicina dos Estados Unidos afirma que dados recentes expandiram o conceito de que a inflamação é um componente crítico da progressão de tumores. 

O estudo explica que muitos cânceres surgem em locais de infecção, irritação crônica e inflamação. 

Assim, já fica claro que o microambiente tumoral, em grande parte orquestrado por células inflamatórias, é um participante indispensável do processo neoplásico, favorecendo a proliferação, sobrevivência e migração. 

Essas percepções estão promovendo novas abordagens terapêuticas anti inflamatórias para prevenir o desenvolvimento do câncer.

Epidemiologia da inflamação crônica subclínica

As doenças inflamatórias crônicas são consideradas a causa de morte mais significativa no mundo.

Estima-se que mais de 50% de todas as mortes podem ser atribuídas a doenças relacionadas à inflamação

De acordo com o National Center for Biotechnology Information (NCBI), é esperado que a prevalência de doenças associadas à inflamação crônica aumente persistentemente nos próximos 30 anos nos Estados Unidos.  

Além disso, a NCBI afirma que, no mundo, 3 a cada 5 pessoas morrem por conta de doenças inflamatórias crônicas como derrame, doenças respiratórias crônicas, doenças cardíacas, câncer, obesidade e diabetes.

Gerenciamento da inflamação crônica subclínica: qual a conduta médica adequada?

Como visto até aqui, a inflamação crônica é uma doença silenciosa e que não manifesta sintomas aparentes no indivíduo.

Dessa forma, o atendimento médico personalizado e atento à fisiologia do paciente é essencial para o combate das inúmeras doenças relacionadas à inflamação crônica subclínica. 

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