Em 2021, foi autorizada pela Anvisa a venda da melatonina em farmácias. De lá para cá, ela ganhou a atenção de um amplo público, em razão de sua contribuição significativa na melhora do sono.
Entretanto, melatonina não é remédio para dormir! Melatonina é um hormônio e, apesar de também popularmente conhecida como o “hormônio do sono”, é uma molécula fundamental para a regulação do ritmo circadiano e, consequentemente, para o equilíbrio de diversas funções biológicas.
Seu papel vai muito além da indução do sono, e uma compreensão mais ampla pode oferecer insights valiosos para a prática clínica.
O que é a Melatonina?
A melatonina é um hormônio produzido principalmente pela glândula pineal, localizada no cérebro. Sua síntese e secreção são reguladas pelo ciclo claro-escuro, sendo a escuridão o principal estímulo para o aumento de seus níveis.
Ela tem como substrato o aminoácido triptofano e é derivada da serotonina, tendo sua produção aumentada à noite e sendo um dos marcadores mais importantes do início da fase de repouso no ciclo circadiano.
Produção e ritmo circadiano
A produção de melatonina segue uma ritmicidade circadiana, ou seja, acompanha o ciclo de 24 horas que regula o sono, a vigília e diversas outras funções biológicas.
A exposição à luz, especialmente a luz azul, inibe sua liberação, enquanto a escuridão estimula sua produção. Este hormônio não apenas promove o início do sono, mas também atua como uma espécie de “relógio biológico”, sincronizando os processos fisiológicos ao ciclo dia-noite.
Quando há perturbações no ritmo circadiano — como em casos de trabalho noturno, jet lag ou exposição excessiva à luz à noite — a produção de melatonina pode ser afetada, resultando em distúrbios no sono e, eventualmente, em uma cascata de disfunções sistêmicas.
Algumas funções além do sono
Embora a melatonina seja amplamente reconhecida por sua capacidade de induzir e manter o sono, seus efeitos vão muito além disso. Ela exerce uma série de outras funções que impactam diretamente a saúde geral:
- Antioxidante Potente: a melatonina possui uma forte ação antioxidante, protegendo as células contra o estresse oxidativo, fortemente relacionado à inflamação crônica e distúrbios emergentes. Ela neutraliza radicais livres e estimula a atividade de enzimas antioxidantes endógenas, desempenhando um papel crucial na neuroproteção e na prevenção de doenças neurodegenerativas.
- Modulação do Sistema Imune: há evidências de que a melatonina também regula respostas imunes, influenciando tanto aimunidade inata quanto a adaptativa. Ela pode atuar como um modulador, auxiliando na resposta inflamatória e contribuindo para a resistência a infecções.
- Regulação Metabólica: estudos sugerem que a melatonina influencia o metabolismo da glicosee dos lipídios, ajudando a manter o equilíbrio energético. Isso explica sua associação com a regulação do peso corporal e a prevenção de distúrbios metabólicos, como diabetes tipo 2.
- Proteção Cardiovascular: a melatonina também tem sido estudada por seu papel na proteção cardiovascular,graças à sua ação antioxidante e anti-inflamatória. Além disso, ela auxilia no controle da pressão arterial, contribuindo para a saúde vascular.
- Proteção da pele: a melatonina também exerce papel fundamental de proteção da pele contra danos por agressores externos, especialmente contra efeitos nocivos da radiação ultravioleta, prevenindo o envelhecimento e servindo como tratamento para dermatite e alopécia, por exemplo.
Importância da produção adequada de melatonina
Manter uma boa produção de melatonina é essencial para a saúde e a qualidade de vida dos pacientes. A deficiência de melatonina, geralmente resultante de hábitos inadequados de sono, exposição excessiva à luz artificial à noite ou distúrbios do ritmo circadiano, pode levar a uma série de problemas de saúde, como insônia, fadiga crônica, comprometimento cognitivo e maior risco de doenças cardiovasculares, metabólicas e neurodegenerativas.
Para os médicos, compreender os fatores que afetam a produção de melatonina e como otimizá-los — seja por meio de ajustes no estilo de vida, uso de suplementação ou intervenções terapêuticas — é fundamental para ajudar os pacientes a alcançar uma melhor regulação do ciclo sono-vigília e uma melhora global na saúde.
Considerações Clínicas
Embora a suplementação de melatonina seja frequentemente recomendada para distúrbios do sono, é importante que sua administração seja feita de forma criteriosa. Nem todos os pacientes se beneficiarão da mesma dosagem ou tempo de uso, e o acompanhamento médico é fundamental para evitar efeitos adversos.
Além disso, abordar os hábitos de exposição à luz, redução do estresse, incentivar práticas de higiene do sono e considerar fatores como o trabalho em turnos ou viagens frequentes são estratégias eficazes para melhorar a produção natural de melatonina e garantir que o ritmo circadiano esteja adequadamente alinhado.
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Conclusão
A melatonina é muito mais do que o hormônio que regula o sono. Seu papel abrangente na saúde vai desde a proteção antioxidante até a modulação imune, o equilíbrio metabólico à prevenção do envelhecimento da pele.
Ter uma compreensão aprofundada de suas funções e dos impactos da desregulação do ritmo circadiano é fundamental para oferecer um cuidado mais eficaz e integrado, promovendo tanto o bem-estar quanto a longevidade dos pacientes.
Se você é paciente, lembre-se: apesar de possibilitar uma série de benefícios, o uso da melatonina deve ser indicado e acompanhado por um médico de confiança.
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