Reposição hormonal, terapia de reposição hormonal, TRH…seja em razão da disseminação dos benefícios para o bem-estar e a qualidade de vida ou dos supostos efeitos colaterais e problemas de saúde que pode provocar, fato é que, nos últimos tempos, esses termos vêm ganhando atenção.
Em meio a esse cenário, não há como ignorar a mistura de conceitos que também têm se tornado frequente, inclusive entre profissionais de saúde.
Tantos são os equívocos quanto ao que, na realidade, é hormônio e configura reposição hormonal, que não se pode negar que ambos os lados tenham certa razão: é possível colher inúmeros benefícios da terapia, porém a prática inadequada tem mesmo enorme potencial danoso à saúde.
É justamente por primarmos pela ética e responsabilidade na prática médica e pela segurança dos pacientes, e por trabalharmos pela melhora da saúde e maior qualidade de vida para a sociedade como um todo, que desenvolvemos este artigo para elucidar, com base na fisiologia, o que é reposição hormonal e também o que não é reposição hormonal.
Antes, o que são hormônios?
Hormônios são moléculas mensageiras produzidas e secretadas naturalmente por glândulas endócrinas.
A mais conhecida dessas glândulas talvez seja a tireoide, mas dispostas no corpo humano, acima dela, também estão o hipotálamo, a hipófise e a pineal, no cérebro; junto da tireoide, a paratireoide; e abaixo dela, o timo, o pâncreas, as suprarrenais, os ovários nas mulheres e os testículos nos homens.
Todas elas produzem um ou mais hormônios e, com exceção do hormônio melatonina, que “se conecta” a receptores diretos e indiretos atuando em quase todos os sistemas, cada hormônio possui seu receptor específico em células localizadas em órgãos e tecidos diversos do corpo.
Esses mensageiros químicos estão envolvidos nas mais diversas funções vitais, como crescimento, restauro e reparo celular, metabolismo, circulação sanguínea, temperatura corporal, função sexual, reprodução e muitas outras.
Um organismo sadio precisa ter plenas capacidades funcionais e manter sua homeostase interna e o equilíbrio hormonal é a base desse processo.
Em razão disso, diante do menor dos desequilíbrios, um indivíduo pode enfrentar sintomas e desconfortos diversos, ter redução significativa de sua qualidade de vida e, também, maior vulnerabilidade para desenvolver doenças, especialmente as crônicas, autoimunes e degenerativas.
A origem do preconceito com hormônios
Os primeiros relatos de reposição hormonal são da década de 1940, nos Estados Unidos, quando passou-se a usar hormônios animais em mulheres menopausadas para alívio dos sintomas relacionados, principalmente os fogachos.
Passado algum tempo, cresceu muito o número de mulheres com câncer de mama fazendo a terapia, o que, obviamente, resultou em um olhar negativo para os hormônios e a reposição hormonal.
Contudo, precisamos reforçar que, naquela época 1) pouco se sabia sobre hormônios e suas funções, 2) a própria menopausa era entendida como um caso de falta de estrogênio apenas; 3) a reposição era feita com substâncias similares, porém não iguais às produzidas pelo organismo humano e 4) não havia individualização de dose ou tempo de uso. Uma realidade completamente distinta da que temos hoje.
Atualmente, muito mais se sabe sobre hormônios, suas funções e hierarquia, sobre os fatores além da idade que impactam o sistema hormonal, sobre a menopausa e outras condições relacionadas ao desequilíbrio ou deficiência hormonal, sobre os sinais relacionados à falta ou insuficiência de um dado hormônio, sobre possibilidades terapêuticas e sobre a composição e ação de substâncias produzidas artificialmente para tratar.
Então, o que é a reposição hormonal?
A reposição hormonal, ou como também chamamos, modulação hormonal, é uma terapia que visa reequilibrar hormônios cujo desequilíbrio ou insuficiência o médico constatar, a partir da investigação laboratorial, mas sobretudo clínica.
Para melhor compreender seu fundamento, empreende relembrar o significado da palavra repor: tornar a pôr, restituir a estado ou situação anterior, devolver. Portanto, apenas por essa definição básica já é possível concluir que:
- a) inserir no organismo uma substância que anteriormente não estava lá não é repor, é substituir.
- b) inserir no organismo uma quantidade de substância que, apesar de comum ao meio interno, não apresentava qualquer grau de desequilíbrio/deficiência não é repor, é acrescentar;
Logo, a reposição hormonal compreende a devolução ao organismo de uma ou mais substâncias anteriormente existentes internamente – que por alguma razão, estejam em desequilíbrio -, na medida necessária para a recuperação da homeostase e manutenção da integridade e capacidade funcional adequadas a um organismo.
Note que o objetivo da reposição jamais deve ser a mudança da composição corporal ou a melhora estética do indivíduo, mas apenas e tão somente a resolução de manifestações clínicas, a devolução do bem-estar e o aumento da qualidade de vida de um indivíduo. A prática se volta exclusivamente ao cuidado da saúde.
Leia também: Melatonina é um hormônio! Não é um remédio para dormir.
E o que não é reposição hormonal?
Em primeiro lugar, o uso de quaisquer substâncias, sejam elas fármacos sintéticos ou hormônios, para fins de melhora estética, não configura reposição hormonal.
Em seguida, o uso de hormônios sintéticos ou bioidênticos em doses suprafisiológicas também não configura reposição hormonal, pois não estará promovendo reequilíbrio.
E por fim, e talvez o engano mais cometido hoje em dia, o uso de medicamentos compostos por substâncias inexistentes no organismo humano, tais como anticoncepcionais hormonais, levotiroxina sódica, gestrinona, tibolona, oxandrolona, puran, levoid, synthroid (…) não configura reposição hormonal.
Todos esses são fármacos que possuem indicação para o tratamento de questões específicas e, portanto, não devem ser usados de maneira indiscriminada, mas que, mesmo quando adequadamente prescritos, não caracterizam a reposição no organismo do paciente de um ou mais hormônios desequilibrados, ou insuficientes.
Nenhum de seus componentes possui estrutura molecular igual a quaisquer dos hormônios produzidos naturalmente pelo corpo, assim como não possuem receptores com os quais podem se encaixar com exatidão para exercer todas as suas funções de modo idêntico aos hormônios naturais que o corpo produz.
Em linguagem simples: esses medicamentos jamais estarão em falta no organismo, porque não existem dentro dele. Logo, seu uso não caracteriza reposição.
Cada coisa em seu devido lugar!
O papel do médico é zelar pela saúde e qualidade de vida de seus pacientes. Portanto, é dever desse profissional se valer de estratégias e ferramentas seguras e eficazes para a melhora das condições de todo e qualquer paciente. Isso quer dizer que diante da identificação de um desequilíbrio ou deficiência, ainda que não caracterize uma doença, médicos podem e devem agir em prol da correção.
Nesse contexto, a terapia hormonal é valiosíssima se utilizada de maneira adequada. Sendo assim, a compreensão mais detalhada sobre o que é e o que não é reposição hormonal é impositiva, tanto para modificação do discurso como para adequação da própria prática.
Se você é paciente, busque por profissionais de confiança, leve todas as suas dúvidas sobre reposição hormonal para sua consulta e não aceite nenhum tipo de tratamento sem entender exatamente o que é, para que serve e quais benefícios e riscos pode lhe proporcionar. É papel do médico lhe informar!
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