A obesidade é uma condição crônica e multifatorial, que vai muito além do simples acúmulo excessivo de gordura corporal.
Seu tratamento exige uma abordagem ampla, baseada em preceitos fisiológicos, metabólicos e hormonais, que ultrapassa a tradicional prescrição de dieta hipocalórica e atividade física.
Para um manejo eficaz e duradouro, é essencial que o médico considere outros aspectos fundamentais que influenciam o metabolismo e a homeostase energética do paciente.
1. Regulação hormonal: além do déficit calórico
A obesidade está intimamente ligada a desequilíbrios hormonais que afetam o metabolismo e o apetite. Alguns hormônios essenciais no controle do peso corporal incluem:
Insulina
A resistência à insulina é comum em pacientes obesos e leva a um estado de hiperinsulinemia, favorecendo o acúmulo de gordura e dificultando a lipólise. Melhorar a sensibilidade à insulina deve ser um dos pilares do tratamento.
Leptina
O hormônio da saciedade, produzido pelo tecido adiposo, muitas vezes está elevado na obesidade, indicando resistência à leptina. Estratégias para restaurar sua função incluem a regulação inflamatória e o equilíbrio do sono.
Cortisol
O excesso de cortisol, comum em estados de estresse crônico, favorece a deposição de gordura abdominal e dificulta a perda de peso. A gestão do estresse e a qualidade do sono são essenciais.
Estudos mostram que, em muitos casos, a obesidade pode estar relacionada à hiperresponsividade do eixo HPA.
Hormônios tireoidianos
A função tireoidiana deve ser investigada, monitorada e corrigida, uma vez que desequilíbrios em seus hormônios podem reduzir o gasto energético basal e contribuir para o ganho de peso.
Um estudo publicado no International Journal Environmental Research and Public Heath sugere que o hipotireoidismo subclínico pode induzir alterações na taxa metabólica basal, aumentando o IMC, e a obesidade também pode afetar a tireoide, com lipotoxicidade e alterações nas adipocinas e secreção de citocinas inflamatórias.
Testosterona e estrogênios
Nos homens, a obesidade pode levar à redução da testosterona, prejudicando o metabolismo lipídico, visto que o hormônio se converte em estradiol.
Nas mulheres, a predominância estrogênica pode impactar a distribuição da gordura corporal e o controle do apetite.
Reequilibrar os hormônios é um passo importantíssimo nesses casos, o que deve ser feito por meio do ajuste de hábitos e estilo de vida, redução da inflamação e remodelação hormonal com hormônios bioidênticos, sempre que necessário.
2. Inflamação crônica e controle do ambiente metabólico
O tecido adiposo excessivo não é apenas um reservatório de energia, mas também um órgão endócrino ativo que libera citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α e IL-6, que contribuem para um estado de inflamação crônica.
A redução da inflamação deve ser um dos objetivos do tratamento e pode ser alcançada por meio de:
- Modulação da microbiota intestinal, visto que um desequilíbrio na flora intestinal pode promover inflamação sistêmica e resistência à insulina.
- Alimentação anti-inflamatória, priorizando alimentos ricos em polifenóis, ácidos graxos ômega-3 e fibras.
- Sono adequado, pois a privação do sono aumenta a produção de grelina (hormônio da fome) e reduz a leptina, favorecendo o aumento da ingestão calórica.
3. Aspectos neuroendócrinos e a regulação do apetite
O sistema nervoso central desempenha um papel crucial na regulação do peso corporal.
O hipotálamo, principal regulador do apetite e do gasto energético, responde a sinais hormonais periféricos, como leptina e insulina. Além disso, o eixo intestino-cérebro influencia diretamente o comportamento alimentar, com destaque para:
- Peptídeo YY (PYY) e GLP-1, hormônios intestinais que promovem saciedade e podem ser modulados pelo consumo adequado de proteínas e fibras.
- Dopamina e serotonina, neurotransmissores envolvidos no comportamento alimentar, cujo equilíbrio pode ser afetado por deficiências nutricionais e pelo consumo excessivo de ultraprocessados.
4. Tratamento personalizado e monitoramento contínuo
Cada paciente responde de forma diferente às abordagens terapêuticas, e o sucesso do tratamento da obesidade depende de um acompanhamento contínuo e individualizado.
Estratégias de tratamento e acompanhamento devem ser norteadas, principalmente, pelo raciocínio clínico, mas o uso de exames laboratoriais para monitoramento metabólico, ajuste terapêutico baseado no perfil hormonal e intervenções personalizadas também são fundamentais para resultados sustentáveis.
Vá além da alimentação e da atividade física!
O tratamento da obesidade vai muito além do balanço energético entre calorias ingeridas e gastas.
A regulação hormonal, o controle da inflamação, a modulação da microbiota e a atenção aos aspectos neuroendócrinos são essenciais para um manejo eficiente e duradouro.
Um olhar integrativo e fisiológico permite ao médico atuar não apenas na perda de peso, mas na verdadeira reprogramação metabólica do paciente, promovendo saúde e longevidade.
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